Gravação mostra atrito entre PM e Guarda Municipal em Florianópolis
No diálogo, militar diz que patrulhamento da rua Bocaiúva seria de competência da Guarda
Diogo Vargas | diogo.vargas@diario.com.br
Um diálogo do comandante do 4º Batalhão da Polícia Militar (PM) em Florianópolis, tenente-coronel Newton Ramlow, e um policial do Centro de Operações Policiais da PM (Copom) coloca em dúvida o atendimento de ocorrências por policiais militares em área nobre de Florianópolis: a rua Bocaiúva.
O Diário Catarinense teve acesso a uma conversa que teria sido gravada pelo rádio de uma viatura, não se sabe se da PM ou da Guarda Municipal. No diálogo, o tenente-coronel determina que solicitações ao Copom na região da Bocaiúva e do Beiramar Shopping devem ser repassadas à Guarda.
Segundo o comandante, a região é de responsabilidade da Guarda Municipal em razão de um sistema de videomonitoramento instalado pelo órgão e a iniciativa privada. Newton diz ao policial que, em caso de solicitação ao Copom, ele deve dar o telefone da Guarda.
Ao responder à ordem do comandante, o policial do Copom, que não é identificado na conversa, diz que desconhecia o monitoramento na área pela Guarda. O coronel então fala da existência de uma Associação da Bocaiúva e da inauguração de câmeras pelo shopping sem o convite à Polícia Militar.
Clientes ameaçam entrar com processo
A solicitação, segundo dá a entender o policial do Copom, seria de atendimento de ocorrência de trânsito. Na conversa, que tem menos de três minutos, o policial revela que há indignação no shopping por causa de bagunça no trânsito e que os clientes ameaçavam entrar com processo. O comandante diz que a situação é mesmo uma vergonha e que eles deveriam processar.
O diálogo já repercutiu entre os funcionários da Guarda Municipal e nos meios policiais. Não há data da gravação, mas a conversa teria sido há mais de um ano. Como o comandante identifica-se como major, ocorreu antes de ser promovido a tenente-coronel, em 25 de novembro de 2008.
Comandante nega falta de atendimento
Procurado nesta quarta-feira pela reportagem, o tenente-coronel Newton Ramlow afirmou que a situação já foi resolvida e garantiu que em nenhum momento a região da Bocaiúva ficou desguarnecida da Polícia Militar.
Mas o comandante mostrou contrariedade ao fato de o videomonitoramento ficar com a Guarda Municipal, controle que entende como sendo de competência da PM.
— Existe um monitoramento que eles assumiram. Agiram de forma errada. O monitoramento da Bocaiúva deveria ficar com a Polícia Militar. Houve uma inversão de valores ali, na época. Nós somos 24 horas, coisa que a Guarda Municipal não é — assinala o coronel, ainda demonstrando queixa pelo fato de supostamente a PM não ter feito parte da parceria entre os moradores e os agentes municipais.
Ele também destaca que a Guarda Municipal de Florianópolis tinha ultrapassado os limites constitucionais ao monitorar via pública, função que é de competência da Polícia Militar.
Segundo o coronel, de 2008 até esta quarta-feira a PM atendeu a 1.961 ocorrências na região da Bocaiúva, sendo que 300 foram de acidentes de trânsito, 189 abordagens de suspeitos, 130 de perturbação de sossego e 86 de danificação de semáforo.
O comandante observa que tinha conhecimento da gravação da conversa e que isso gerou mal-estar, na época, mas que hoje a situação foi superada. Para Ramlow, há um movimento forte para desestabilizá-lo.
Os principais motivos seriam, segundo ele, o fato de ter combatido o fechamento de quartéis por praças da PM no Natal passado, ter ordenado a primeira expulsão de um soldado por esse motivo e também por assumir sua amizade com o prefeito Dário Berger (PMDB).
— Isso tem interesse político. Mas não sou candidato a nada — declara.
Guarda diz que número de ocorrências triplicou
O diretor-geral da Guarda Municipal de Florianópolis, Julio Pereira Machado, disse nesta quarta que não poderia falar sobre esse assunto por envolver outra instituição (a PM). Mas ele comentou que o número de ocorrências na região da Rua Bocaiúva triplicou nos últimos seis meses, desde atendimento de trânsito a brigas de casais.
Por meio da assessoria de imprensa, o Beiramar Shopping informou que o atendimento pela PM está normal no estabelecimento quando há solicitações. O empresário que estaria à frente da Associação da Bocaiúva, na época, está em viagem e não foi encontrado, assim como o atual representante.
Retirado de: http://www.clicrbs.com.br/diariocatarinense/jsp/default.jsp?uf=2&local=18§ion=Geral&newsID=a2715088.xml
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