Julgamento será retomado às 12h desta terça (6) no fórum da Barra Funda.
Acusação anunciou a dispensa da terceira testemunha que seria ouvida.
No primeiro dia de julgamento da advogada Carla Cepollina, que aconteceu nesta segunda-feira (5), duas testemunhas de acusação foram ouvidas no Fórum Criminal da Barra Funda, na Zona Oeste de São Paulo. Ela é acusada de matar o coronel da PM Ubiratan Guimarães em setembro de 2006. O delegado de polícia Marco Antonio Olivato, que à época conduziu a investigação do crime no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e indiciou Carla, segunda testemunha a depor, deu detalhes das conclusões. Antes dele, a pianista Odete Campos, vizinha do coronel, de 85 anos, já tinha prestado depoimento.
O depoimento do delegado foi interrompido às 23h15, após consulta do juiz Bruno Ronchetti de Castro à defesa da ré e à acusação, devido ao fato de os jurados terem alegado cansaço dado o adiantado da hora. O júri foi encerrado em seguida, às 23h20, após os promotores anunciarem a dispensa da terceira testemunha, o delegado José Vinciprova Sobrinho, que seria ouvida na manhã desta terça-feira (6), quando o julgamento deve ser retomado.
Com a dispensa da testemunha de acusação, o juiz determinou que o julgamento será retomado ao meio-dia desta terça-feira, já com a leitura das peças dos autos do inquérito, seguida pelo interrogatório de Carla Cepollina, que deverá se estender durante todo o dia.
Mesmo depois de ter sido retirada do plenário, por determinação do juiz que preside o júri, por ter se manifestado durante depoimento do delegado Olivato, às 21h30, Cepollina, ao deixar o fórum, após o encerramento da sessão, procurou se mostrar confiante.
"Foi positivo. Eles (jurados) perceberam que a acusação não tem nada, não tem nenhuma evidência científica, só elucubrações. Eu confio na Justiça", afirmou. A mãe e advogada de defesa da ré, Liliana Prinzivalli, admitiu que extrapolou "um pouquinho" durante o julgamento, no qual foi advertida várias vezes durante o interrogatório da segunda testemunha, o delegado Olivato, até ter seu direito de questioná-lo cassado pelo juiz, por volta das 22h.
"Extrapolei com as duas (como mãe e como advogada), porque sempre que atuei em qualquer processo de meus clientes eu tinha esse tipo de reação. É muito duro você ser contratada, quer dizer a pessoa te entrega a vida. É que nem um médico. Se o médico vê que tem de fazer algum tipo de intervenção, ele tem que fazer. Agora, é a mesma coisa com advogado, você entrega a sua honra, a sua liberdade a ele", declarou.
Vinte minutos após ter sido repreendida e ser impedida pelo juiz de seguir com o interrogatório durante o júri, Liliana se desculpou. "Peço desculpas. Realmente me excedi um pouco. Peço para reconsiderar", solicitou ao juiz, para poder retomar as questões à testemunha.
Antes deste episódio, o presidente do júri já havia chamado a atenção da advogada para o duplo papel que ela vinha desempenhando durante o julgamento. "Na primeira fase deste inquérito, a senhora foi testemunha e agora se apresenta como advogada. A senhora optou por um caminho, ser advogada. Então, a senhora não pode manifestar sua opinião e nem trazer informações novas que não estejam nos autos", ressaltou o juiz, após seguidas advertências.
Sobre a atuação da defesa de Carla Cepollina, o advogado Vicente Cascione, assistente da acusação e que defendeu o coronel Ubiratan Guimarães no julgamento do episódio que ficou conhecido como o Massacre do Carandiru, que resultou na morte de 111 detentos, foi irônico: "Acho que a defesa está ajudando a acusação, mesmo que não queira".
Ele considerou positivo o primeiro dia de julgamento e destacou o depoimento do delegado que comandou as investigações. "O depoimento dele é indiscutível. Ele fez uma narrativa sintética de todas as provas que foram colhidas, de tal maneira que coincide com a tese da acusação. O que a polícia viu e colocou no inquérito é o que nós vamos sustentar. Nós não vamos inventar absolutamente nada", disse.
Primeira testemunhaAntes do delegado, a primeira testemunha a ser ouvida foi a pianista Odete Campos, vizinha do coronel, de 85 anos. Ela também foi convocada pela acusação. A idosa contou aos jurados que, no dia do assassinato, ouviu um barulho "estridente", semelhante ao de uma pilha de pratos caindo ou de uma pedrada na janela. Entretanto, após ser questionada pelo promotor se era barulho de tiro, ela disse que não se lembrava dos fatos. Na opinião de Odete, o prédio era seguro.
A advogada de defesa, Liliana Prinzivalli, questionou Odete sobre invasões à garagem do prédio e a pianista disse que não se lembrava. A mãe de Carla foi interrompida ao menos três vezes pelo juiz por sua abordagem à testemunha. O magistrado pediu que a advogada fizesse perguntas e não fornecesse informações que poderiam influenciar a testemunha.
Segunda testemunhaOlivato conduziu a investigação do crime no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Ele indiciou Carla Cepollina pelo assassinato e deu detalhes, durante o julgamento, de suas conclusões sobre o caso. O delegado alega que há inconsistência nos depoimentos de Carla e imagens de câmeras que mostram que ela entregou roupas erradas para a perícia.
Segundo Olivato, o pano de fundo do crime é o caso que o coronel Ubiratan mantinha com uma delegada da Polícia Federal. Ele diz que o namoro com Carla já estaria acabado e ela teria matado o coronel por ciúme, após descobrir o outro relacionamento. “Os filhos de Ubiratan traçam o perfil de Carla Cepollina como pessoa possessiva, ciumenta, que queria um compromisso mais oficial. E o pai não queria isso”, disse.
Na noite do dia 9 de setembro de 2006, data em que a acusação afirma que o crime ocorreu, Ubiratan recebeu torpedos da delegada. O delegado afirma que as mensagens teriam sido respondidas por Carla, passando-se por Ubiratan, fato que ela negou em depoimento.
A delegada ligou e, então, Ubiratan atendeu, dizendo que iria resolver a situação. “Ela [Carla] fala que o celular estava na sala e a vítima no quarto dormindo”, afirma o delegado, dizendo haver contradição no depoimento. Para ele, seria difícil Ubiratan corresponder-se com a delegada na presença de Carla. Uma perícia realizada posteriormente mostrou que as mensagens enviadas do celular de Ubiratan foram apagadas.
O delegado afirmou ainda que há depoimentos de pelo menos três vizinhos diferentes afirmando que ouviram o ruído do tiro. Um deles, a pianista Odete Campos, foi a primeira testemunha a depor nesta segunda. Houve ainda testemunhas que relataram a presença de Carla no edifício naquele sábado, segundo o policial.
Olivato citou ainda outros elementos que evidenciariam o envolvimento de Cepollina no crime. Câmeras de segurança do edifício onde ela residia mostraram que ela vestia uma jaqueta e uma blusa clara no sábado da morte. As peças entregues à polícia para perícia, porém, eram diferentes.
Além disso, a polícia comparou a bala disparada contra Ubiratan com projéteis de um revólver que pertencia ao coronel, encontrados em uma árvore em uma propriedade no interior de São Paulo onde ele praticava tiro. A conclusão da polícia foi que Ubiratan acabou assassinado pela própria arma. O registro telefônico das ligações realizadas por Cepollina na noite de 9 de setembro também reforçam a ideia de que ela saiu do apartamento de Ubiratan. O prédio onde o coronel residia nos Jardins foi tido como seguro pela polícia.
Julgamento
O julgamento deve prosseguir nesta terça-feira com o depoimento de Carla Cepollina. Nos próximos dias ocorrerão também os debates, com a acusação e a defesa apresentando seus argumentos para os jurados.
O julgamento deve prosseguir nesta terça-feira com o depoimento de Carla Cepollina. Nos próximos dias ocorrerão também os debates, com a acusação e a defesa apresentando seus argumentos para os jurados.
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