segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Torcedores que invadiram o campo do Coritiba falam da selvageria no Paraná

As imagens da pancadaria ajudaram a polícia a fazer o reconhecimento dos envolvidos. Dois foram presos durante a semana e, neste sábado (12), foram realizadas outras 15 prisões.

'Poderia ter voltado em óbito para casa', diz policial agredido.

Autoridades defendem o fim das torcidas organizadas no Brasil.

Agentes do Centro de Operações Policiais Especiais e da Polícia Militar do Paraná prenderam no sábado (12) os responsáveis pelas cenas de barbárie que chocaram o país no domingo passado (6), após o término do jogo entre Coritiba e Fluminense, no estádio Couto Pereira, em Curitiba, que culminou no rebaixamento do clube paranaense para a Série B do Campeonato Brasileiro.

O grupo chegou ao apartamento do vice-presidente da Império Alviverde, torcida organizada do Coritiba Futebol Clube. Os policiais entraram no apartamento e perceberam que o homem poderia fugir. Ele, no entanto, não teve tempo de se vestir para fugir, pulou a janela nu e não conseguiu escapar.

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Reimáckler Garbóski é um dos muitos torcedores que invadiram o campo do Coritiba quando o time caiu para a segunda divisão, no último domingo. É ele quem tenta atirar cadeiras contra policiais militares. "Peguei um banco quebrado que já estava dentro do gramado, que não sei da onde que arremessa, eu jogo meio que sem direção", disse.
Na delegacia, Reimáckler tenta se explicar. "Tinha 30 mil torcedores lá. Pergunta pra esses 30 mil”, diz o vice-presidente da Império Alviverde, Reimáckler Garbóski. Ele bancou o valentão no estádio, mas, ao ser preso, a história foi outra. “Não me mata, senhor, por favor. Eu tenho família, por favor”, pediu o vice-presidente. E o policial respondeu: “Ninguém vai matar você”.

Prisões

Na operação de sábado (12), a polícia prendeu 15 torcedores. Também foram apreendidos drogas, armas e computadores que podem conter indícios de que o ataque foi planejado.
"Não tinha nada premeditado", disse um torcedor. Mas um integrante da mesma torcida conta que a violência foi premeditada. "Tem a parte da bateria e a parte dos que brigam, entendeu? Da torcida. Quem é da bateria não briga", explicou um torcedor desempregado.
Ele aparece em uma foto enfrentando os guardas. Ele é cercado depois de bater em um dos árbitros. "O bandeirinha me deu uma, daí eu dei umas duas nele. Eu não ia invadir. Não ia. Daí acabou o jogo, fiquei com muita raiva. Fiquei cego. Eu quis ir no juiz, porque na minha cabeça ele estava metendo a mão, estava roubando”, assume o torcedor.
Na semana passada, outros dois torcedores já tinham sido presos. Um deles foi flagrado pelas câmeras, sem camisa, tentando atirar cadeiras nos policiais. O outro preso aparece dando uma paulada em um policial que está desacordado.

‘Culpa do time’

No presídio, eles procuram justificar o injustificável. Tentam colocar a culpa no próprio time. Ao responder em que momento o pessoal resolveu entrar em campo, um professor de boxe tailandês disse: “Pior que não teve o último momento, assim, desesperado. Tipo, o time empatou ali, né? Estava caindo para a segunda divisão, a galera começou a invadir, invadir o gramado.”
Torcedor do Coritiba, um auxiliar mecânico assumiu: “Um momento de raiva da torcida, um trabalho de um ano inteiro da torcida bonito, a gente apoiando e os jogadores decepcionaram a torcida de um jeito”, reclamou.
Um dos torcedores confessa que queria bater nos jogadores. “É, a intenção era assim, entrar no campo e mostrar para os jogadores que a torcida estava indignada. No caso, não agredir os jogadores, mostrar para eles, assim, que não se brinca com time centenário, assim. No ano do centenário cair para a segunda divisão é vergonhoso”, disse.
Agora, atrás das grades, eles dizem que se arrependem. “Sei que eu errei, mas estou pagando por uma coisa que eu sei que eu não errei, porque é uma covardia agredir um policial praticamente distendido no gramado. E tinha mulheres policiais.”
Uma soldado da PM do Paraná confirma: “Ali também eles não pensavam quem era homem, quem era mulher. O intuito deles era agredir e machucar mesmo policiais”, contou. A policial aparece na formação de policiais que tenta conter os vândalos. “A gente estava se protegendo com os escudos, eles tacavam nas nossas pernas, para acertar nossas pernas. Então, a gente foi bastante atingido nas pernas, todos nós”, acrescentou.

PM atingido

Em campo, ela e os outros policiais passaram então a tentar proteger o soldado Luiz Ricardo Gomide, que desmaiou depois de ter sido agredido pelos torcedores criminosos. Vários objetos atirados nele. “Eu me lembro de momento antes, de os torcedores invadindo o gramado e atirando contra nós muitos objetos”, lembra Gomide.
O soldado ficou duas horas desacordado. Foi retirado do campo pelos colegas. “Ele já estava caído e os torcedores estavam vindo para cima dele. E a gente não pensava se ia ser ferido ou não. Era só tirar ele dali - porque ele estava sangrando muito - e levá-lo para o mais longe possível deles”, disse a soldado que falou ao Fantástico.
Gomide conta que sofreu traumatismo craniano, fratura no nariz, escoriações na perna e que teve três dentes quebrados. “Já tive troca de tiro. E até perguntaram para mim qual que era pior. Qual que é pior, a troca de tiro ou se é uma multidão vindo para cima da gente. Que ali vinha pedaço de pedra, de ferro, de tudo quanto é lado, né? E com o tiro, ainda dá pra você se abrigar”, disse a policial.
O soldado Gomide diz que poderia ter sido o fim. “Quando saí de casa, deixei minha família bem. Poderia ter voltado em óbito para casa.”
Um comerciante torcedor do Coritiba também poderia ter morrido. Foi retirado do estádio por um helicóptero da Polícia Rodoviária Federal, com sinais de princípio de infarto. Ele diz que não invadiu o gramado. Provocado, brigou contra outros torcedores e diz que acabou no campo para buscar socorro.
“Eu tenho uma parcelinha de culpa também, por estar nervoso. O clima estava tenso e eu também estava. Ninguém gosta de ver seu time rebaixado, né? Nunca me envolvi com briga, nunca. Nunca tive problema em lugar nenhum. É a primeira vez”, disse. O irmão do comerciante conta que há 30 anos eles acompanham o Coritiba e nunca foram de torcida organizada.

Torcidas organizadas

Para o secretário de Segurança Pública do Paraná, torcida organizada é justamente o problema que precisa ser eliminado dos estádios.
“Acho que tem que acabar com as torcidas organizadas. Elas se prestam para alguns poucos ganharem dinheiro e viverem profissionalmente delas, voltarem todas as suas atividades e seus lucros para elas, e para muitos lutarem, brigarem, baterem nas pessoas, quebrarem a cidade e matarem. Se a torcida organizada existe pra brigar, pra quebrar o estádio, pra quebrar ônibus, pra quebrar terminal, pra matar pessoas, ela não pode existir, porque a finalidade dela é uma finalidade criminosa”, defende o secretário.
A polícia do Paraná continua a procurar agressores como o homem mostrado em vídeo, que fugiu de Curitiba. Os acusados vãos responder por invasão de campo, destruição do patrimônio do clube, lesão corporal e formação de quadrilha. A pena pode chegar a 11 anos de prisão por todos os crimes.

 

Retirado de: http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL1413734-5598,00-TORCEDORES+QUE+INVADIRAM+O+CAMPO+DO+CORITIBA+FALAM+DA+SELVAGERIA+NO+PARANA.html

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