Naquele tempo não se conhecia o fenômeno El Niño, a culpa recaía sobre São Miguel. Trovejada durante a lua nova de setembro, seis meses de aguaceiros
Lá vamos nós dar mais uma volteada pelo passado. Navegamos pelos tempos idos sem retorno por uma Curitiba que deixou saudades – vamos escapar por alguns minutos da violência urbana, do caos do trânsito e vamos cair numa época de elegante cidadania.
Estaremos numa época em que a vida era simples e bem mais tranquila. Todavia problemas existiam: acidentes como as explosões na Estação da Estrada de Ferro, em 1913, e a de 1936 no depósito de fogos do Café Paiva, na Rua Comendador Araújo; e enchentes no centro da cidade quando na época das chuvas, entre os meses de outubro e março. Naquele tempo não se conhecia o fenômeno El Niño, a culpa recaía sobre São Miguel. Trovejada durante a lua nova de setembro, seis meses de aguaceiros. Fato que está acontecendo neste ano de 2009.
Nem tudo era tranquilo na Velha Curitiba. A foto mostra uma enchente do Rio do Ivo, na Rua José Loureiro esquina com Barão do Rio Branco, em 1947
Um desfile infantil na Rua XV. A piazada com seus carrinhos de brinquedo participam de uma campanha beneficente, em 1940
Atualmente, milhares de curitibanos trafegam por este local todos os dias. Em 1910, quando foi feita a foto, era uma estreita e sinuosa estradinha de carroças; hoje, é a imponente Avenida Manoel Ribas, em Santa Felicidade
A Rua Marechal Floriano, apesar do acúmulo de água na sarjeta, tinha certa poesia com a presença dos bondes e das magnólias plantadas em seu canteiro central, em 1947
No Boqueirão, os menonitas reúnem-se no pátio da sua igreja participando de um festejo em 1947
A Guarda Civil em novembro de 1911. Quando foi instalada, sua presença impôs ordem e respeito na cidade por mais de cinquenta anos
Hoje, o policiamento da cidade requer milhares de guardas e mesmo assim se mostram mal postados para controlar um tumulto, como aconteceu há poucos dias no campo do Couto Pereira. Durante muitos anos, o policiamento da cidade, incluindo o controle do trânsito, era feito pelo contingente da Guarda Civil, que foi criada em 1911 e dissolvida durante a ditadura instalada em 1964.
O transporte coletivo esteve por muitos anos por conta dos bondes elétricos que começaram a circular em 1913, substituindo os existentes que eram tracionados por mulas. Em meados da década de 1930, surgiram os ônibus que cobriam espaços onde os bondes não circulavam. Em 1952, com a desativação dos bondes surgiram os lotações, que nada mais eram do que caminhonetes, e mesmo alguns calhambeques, adaptados para transportar passageiros, foi o princípio do surgimento das empresas de coletivos e da concorrência entre as mesmas.
Passear pelas ruas centrais, visitar as vitrines das lojas à noite, ir ao cinema, e mesmo se divertir em quermesses e festas de igrejas, acabaram. O calor humano das rodinhas de papos na Rua XV, hoje nem pensar. Os cafés da Quinze, pontos tradicionais de encontro, fecharam. Os atuais, poucos e espalhados, não chegam perto dos que existiram. Na atualidade, a Rua XV fica morta aos domingos e feriados. Antigamente, antes do fechamento ela vibrava com a presença do povo fazendo footing.
As diversões dominicais ficaram restritas aos parques criados pela prefeitura. Antigamente, as reuniões contavam com os clubes que promoviam bailes aos sábados – principalmente os operários, além de parques como os das cervejarias Cruzeiro e Providência, no Batel, e o Graciosa e Barcarola, no Juvevê. O grande programa do curitibano da atualidade, aos domingos, chama-se Santa Felicidade. Para alguns o futebol, onde apenas três times se enfrentam. A cidade possuía, até a década de 1960, oito equipes na categoria profissional, cinco desapareceram.
O curitibano pacato virou cidadão caseiro, sua domingueira se resume num churrasquinho de fundo de quintal, isto para quem ainda tem quintal, e nos programas chatérrimos das televisões, com seus apresentadores competindo para ser mais engraçadinho que os demais.
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