segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Passeando no passado, uma história contada em Curitiba

Naquele tempo não se conhecia o fenômeno El Niño, a culpa recaía sobre São Miguel. Trovejada durante a lua nova de setembro, seis meses de aguaceiros

Lá vamos nós dar mais uma volteada pelo passado. Navegamos pelos tempos idos sem retorno por uma Curitiba que deixou saudades – vamos escapar por alguns minutos da violência urbana, do caos do trânsito e vamos cair numa época de elegante cidadania.

Estaremos numa época em que a vida era simples e bem mais tranquila. Todavia problemas existiam: acidentes como as ex­­plosões na Estação da Estrada de Ferro, em 1913, e a de 1936 no de­­pósito de fogos do Café Paiva, na Rua Comendador Araújo; e en­­chentes no centro da cidade quando na época das chuvas, en­­tre os meses de outubro e março. Naquele tempo não se conhecia o fenômeno El Niño, a culpa re­­caía sobre São Miguel. Trove­­jada du­­rante a lua nova de se­­tembro, seis meses de aguaceiros. Fato que es­­tá acontecendo neste ano de 2009.

 / Nem tudo era tranquilo na Velha Curitiba. A foto mostra uma enchente do Rio do Ivo, na Rua José Loureiro esquina com Barão do Rio Branco, em 1947 Ampliar imagem

Nem tudo era tranquilo na Velha Curitiba. A foto mostra uma enchente do Rio do Ivo, na Rua José Loureiro esquina com Barão do Rio Branco, em 1947

 / Um desfile infantil na Rua XV. A piazada com seus carrinhos de brinquedo participam de uma campanha beneficente, em 1940 Ampliar imagem

Um desfile infantil na Rua XV. A piazada com seus carrinhos de brinquedo participam de uma campanha beneficente, em 1940

 / Atualmente, milhares de curitibanos trafegam por este local todos os dias. Em 1910, quando foi feita a foto, era uma estreita e sinuosa estradinha de carroças; hoje, é a imponente Avenida Manoel Ribas, em Santa Felicidade Ampliar imagem

Atualmente, milhares de curitibanos trafegam por este local todos os dias. Em 1910, quando foi feita a foto, era uma estreita e sinuosa estradinha de carroças; hoje, é a imponente Avenida Manoel Ribas, em Santa Felicidade

 / A Rua Marechal Floriano, apesar do acúmulo de água na sarjeta, tinha certa poesia com a presença dos bondes e das magnólias plantadas em seu canteiro central, em 1947 Ampliar imagem

A Rua Marechal Floriano, apesar do acúmulo de água na sarjeta, tinha certa poesia com a presença dos bondes e das magnólias plantadas em seu canteiro central, em 1947

 / No Boqueirão, os menonitas reúnem-se no pátio da sua igreja participando de um festejo em 1947 Ampliar imagem

No Boqueirão, os menonitas reúnem-se no pátio da sua igreja participando de um festejo em 1947

 / A Guarda Civil em novembro de 1911. Quando foi instalada, sua presença impôs ordem e respeito na cidade por mais de cinquenta anos Ampliar imagem

A Guarda Civil em novembro de 1911. Quando foi instalada, sua presença impôs ordem e respeito na cidade por mais de cinquenta anos

Hoje, o policiamento da cidade requer milhares de guardas e mesmo assim se mostram mal postados para controlar um tu­­multo, como aconteceu há poucos dias no campo do Couto Pe­­reira. Durante muitos anos, o policiamento da cidade, incluindo o controle do trânsito, era feito pelo contingente da Guarda Civil, que foi criada em 1911 e dissolvida durante a ditadura instalada em 1964.

O transporte coletivo esteve por muitos anos por conta dos bondes elétricos que começaram a circular em 1913, substituindo os existentes que eram tracionados por mulas. Em meados da dé­­cada de 1930, surgiram os ônibus que cobriam espaços onde os bon­­des não circulavam. Em 1952, com a desativação dos bondes surgiram os lotações, que na­­da mais eram do que caminhonetes, e mesmo alguns ca­­lham­­be­­ques, adaptados para transportar passageiros, foi o princípio do surgimento das empresas de coletivos e da concorrência entre as mesmas.

Passear pelas ruas centrais, visitar as vitrines das lojas à noite, ir ao cinema, e mesmo se di­­vertir em quermesses e festas de igrejas, acabaram. O calor humano das rodinhas de papos na Rua XV, hoje nem pensar. Os cafés da Quinze, pontos tradicionais de encontro, fecharam. Os atuais, poucos e espalhados, não chegam perto dos que existiram. Na atualidade, a Rua XV fica morta aos domingos e feriados. Anti­­gamente, antes do fechamento ela vibrava com a presença do povo fazendo footing.

As diversões dominicais ficaram restritas aos parques criados pela prefeitura. Antigamente, as reuniões contavam com os clubes que promoviam bailes aos sábados – principalmente os operários, além de parques como os das cervejarias Cruzeiro e Providência, no Batel, e o Gra­­ciosa e Barcarola, no Juvevê. O grande programa do curitibano da atualidade, aos domingos, chama-se Santa Felicidade. Para alguns o futebol, onde apenas três times se enfrentam. A cidade possuía, até a década de 1960, oito equipes na categoria profissional, cinco desapareceram.

O curitibano pacato virou cidadão caseiro, sua domingueira se resume num churrasquinho de fundo de quintal, isto para quem ainda tem quintal, e nos programas chatérrimos das televisões, com seus apresentadores competindo para ser mais engraçadinho que os demais.

Retirado de:

http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/colunistas/conteudo.phtml?tl=1&id=954148&tit=Passeando-no-passado

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