terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Apolonário, o meu muito obrigado

Apolonário, o meu muito obrigado

Carta aberta à Guarda Municipal do Rio de Janeiro

Em geral, a Guarda Municipal do Rio de Janeiro (GM-RJ) não ocupa o melhor nos meus sonhos, a bem da verdade sua posição teima em ficar nos meus pesadelos.

Mas escrevo hoje não para reclamar, mas para agradecer. Agradecer à GM-RJ, mais precisamente ao eficiente guarda Apolonário, portador da matrícula 6382757, que demonstrou ser uma pessoa de bom caráter, um trabalhador elogiável. Ampliando a esfera de seu trabalho, indo além ao serviço que deveria prestar à população naquela noite de 18 de novembro de 2009.

Em princípio, o guarda estava escalado para o controle do tráfego no entorno do Maracanã.  Era dia de jogo da Copa Sul-Americana e o Fluminense encararia o Cerro Porteño, do Paraguai. À ida ao estádio estava confusa, principalmente por causa de um acidente na Av. Brasil que teve reflexos no Túnel Rebouças e também no início da Radial Oeste.

Pois bem, já haviámos chegado ao Maraca (eu e Léo, outro tricolor) e estávamos no aguardo de mais dois companheiros de torcida, irmãos do meu camarada. Estes estavam atrasados, presos no meio do caminho em um interminável engarrafamento.

O jogo já estava para começar e não havíamos entrado, pois detínhamos as entradas dos atrasados amigos. Não queríamos perder o início da partida. Já cogitávamos vender as entradas para qualquer um, por qualquer preço, mesmo que isso significasse que o pessoal tivesse que comprar de cambistas ou ficar a ver navios, mas não o jogo.

Eis que, num assombro, veio a idéia: porque não pedir para o guarda municipal a guarda das entradas para os nossos amigos? A idéia, de início, parecia estranha. Porque um servidor guardaria bens que não lhe pertencem? Mas confiante de que a idéia era boa, encaminhei-me ao sr Apolonário (ainda não sabia o nome) e indaguei:

- Boa noite, o Sr ficará aqui até o fim da partida?

Surpreso com a minha pergunta, balançou a cabeça positivamente. Continuei os questionamentos:

- Será que o Sr. poderia me prestar um favor?

Olhou-me com certo assombro… continuei…

- Tenho dois amigos ques estão presos em um engarrafamento e atrasarão para o jogo e seus ingressos estão comigo.

O olhar de assombro aumentou ligeiramente, penso que adivinhara o que iria pedir…

- Será que o Sr poderia guardar as entradas para eles, de modo que eu consiga assistir o jogo desde o início?

Ele observou serenamente a indagação, tive medo de que não aceitaria e de que voltaríamos à estaca zero e ao dilema que nos acossava (esperar ou não). Então, respondeu-nos que poderia guardar os ingressos. Agradecemos e demos-lhe os bilhetes de entrada. Telefonamos aos amigos e informamos da improvável e inusitada ação para o recebimento das entradas.

À princípio, ninguém acreditou. À todos que contávamos, diziam “sóis loucos”. Vivemos em mundo em que aprendemos a não confiar nos guardas (municipais, civis ou militares), mas, mesmo assim, insisto em querer acreditar. A redenção do ser humano será continuar a acreditar em nós mesmos. E não estávamos errados.

Por causa do guarda Apolonário (6382757) todos puderam assistir ao jogo. Por causa do sr Apolonário, agora sei que os servidores podem ser excelentes prestadores de serviço. Por causa do Apolonário, revivi a esperança de um mundo melhor para os meus filhos. Pelo Apolonário escrevo esta carta.

Por esse dedicado funcionário público que demonstra ter plena ciência da importância de seu ofício, de ser muito mais do que manda a cartilha da GM-RJ. Servidor, guarda, controlador, mas acima de tudo, humano.  Enfim, é por esta pessoa que escrevo esta carta, para parabenizar à GM-RJ e que esta instituição preste mais atenção nesse servidor.

PS: Ao fim do jogo, verifiquei que o Apolonário ainda estava no seu local de trabalho e fiz questão de cumprimentá-lo e pedir a sua matrícula para escrever esta carta. Eis que ele me pergunta qual havia sido o resultado do jogo, disse-lhe da vitória tricolor e da confusão no fim da partida com os briguentos jogadores paraguaios. Ele sorriu e me confidenciou ser tricolor. Pois bem, sabia que aquele bom caráter não podia ser à toa.

Atenciosamente,

Diogo Hermes de Araújo

Retirado de: http://maybe.not.br/index.php/2009/12/apolonario-o-meu-obrigado/

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